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O racismo não aumentou no Brasil, ele apenas passou a ser filmado – por Evilailton José

Foto do escritor: Radiojornalista Paulo MarcosRadiojornalista Paulo Marcos

O racismo não aumentou no Brasil, ele apenas passou a ser filmado. A enfermeira Camila Ferraz Barros, acredita que seu pomposo sobrenome lhe credencia e lhe faz apostar na impunidade no Brasil. A enfermeira que cometeu injúria racial contra funcionárias negras, já havia sido demitida de um grande hospital localizado no bairro de São Rafael e conseguiu emprego em outro hospital de uma rede privada grande e renomada. Uma segunda chance que dificilmente seria concedida a um negro afro-brasileiro.

As leis nesse país precisam ser cumpridas, para que as pessoas parem de achar que a sua hereditariedade, que os seus indicadores, seus parentes, sua cor de pele ou os seus sobrenomes irão, de algum modo, protegê-las de crimes ou lhes outorgar algum tipo de benevolência. É preciso que mais negros, mais pessoas antirracistas, pessoas conectadas e comprometidas com as causas sociais acessem os poderes judiciário e legislativo. Para isso, as políticas de reparação existem e precisam ser fortalecidas e ampliadas.

Casos como esses nos fazem relembrar tantos outros episódios racistas que acontecem cotidianamente na capital mais negra fora da África. Mas também nos alerta para necessidade de continuar na luta e no enfrentamento, como sempre estivemos. No meu lugar de fala, consigo dizer que tudo que foi conquistado pelas mulheres, pelos negros, pela comunidade LBGTQIAPN+ nesse país, até aqui, foi com apoio e com a mão forte e combatente do movimento de esquerda que representa o povo, a defesa pela igualdade de direito cria e implementa ações e políticas que demandam a reparação histórica ao povo negro. É deste lugar que repudio, repudiamos e cobramos providências ao crime cometido pela dita enfermeira Carolina Ferraz Barros.

Esses debates acerca da questão racial e dos crimes cometidos contra o nosso povo negro precisa ser encarado a fim de construir uma juventude mais consciente dos seus direitos. A legitimação da política de cotas, iniciada há mais de 20 anos, foi uma luta árdua, quando tivemos de desmistificar mentiras, narrativas inventadas, fake news. Havia debates de todo tipo, inclusive de que as cotas desumanizavam, desqualificavam ou diminuíam a intelectualidade do negro. Combater tudo isso não foi e não é tarefa fácil. Ainda lutamos por permanência, por residências universitárias, auxílio estudantil, direito e acesso para as mulheres, mães, financiamento para os povos quilombolas, indígenas e sem-terra, por exemplo. Hoje, a nossa luta é também por justiça. Luta para garantir que o judiciário brasileiro seja firme e coeso na punição dos crimes contra a mulher, contra o negro, contra o indígena, contra a comunidade LBGTQIAPN+.

O processo de conscientização, formação e autoformação também é imprescindível e deve ser permanente. Nós pretos precisamos parar de ser desculpa para branco, precisamos parar de ser desculpa para gente racista. Nós precisamos parar de aceitar que as pessoas nos usem para justificar o seu racismo ou seu apartheid. É preciso compreender que a luta antirracista mexe com a economia, educação, segurança e saúde do Brasil, é uma luta que não fala só da desigualdade no campo da cor, fala da desestruturação das ciências no que tange ao desenvolvimento do País em todas as áreas, já que nos últimos 100 anos tudo que se tornou internacional foi desenvolvido pelo povo negro. No meu lugar de fala, consigo dizer que nada é exatamente nada nesse país conquistado pelas mulheres, pelos negros, pelos LGBTQIA+ foi conquistado sem a participação direta da esquerda, sem a mão da luta do proletariado e dos sindicatos. Estão tentando demonizar a nossa figura, demonizar as nossas visões.

Precisamos dar fim a esse sistema impopular que coloca pessoas contra pessoas, nada disso será é possível enquanto a luta antirracista não for encarada por todos e todas. É importante salientar que no episódio com enfermeira racista Camila, percebe-se que ela ficou mais feroz e mais violenta quando percebeu que a gerente da funcionária também era negra, ou seja, o racismo estruturado na cabeça, nas falas e no corpo da enfermeira, a coloca como superior simplesmente pela cor da sua pele. E sua fala ecoa nas nossas cabeças: “Petista, baixa e preta…” Ecoa e nos alerta, ecoa e nos convoca, ecoa e nos faz gritar: Estamos aqui, Carolina! Não daremos nenhum posso para traz! Não recuaremos!

Por fim, aproveito para parabenizar o Governador Jerônimo pela criação da Delegacia de Combate ao Racismo e ao Preconceito, porque é com ações e políticas como estas que avançaremos no debate racial e na construção de uma sociedade mais justa com pessoas que não se calem diante de crimes como o ocorrido em questão.

Evilailton José Secretário de Combate ao Racismo do PT Bahia

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💟 Secretária Estadual de Política para as Mulheres da BA.
💜 Deputada Estadual licenciada
🌟 Primeira prefeita do PT na Bahia, em Pintadas (1997 a 2004)

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